terça-feira, 17 de maio de 2016

Via Crucis e Via Lucis


A paróquia de Santa Maria do Barreiro partilha as suas propostas para este ano da Via Crucis e Via Lucis baseadas no documento Misericordiae Vultus do Papa Francisco.

-Via Sacra

-Via Lucis

Despertar da Fé - O DESEJO HUMANO E O DESEJO DE DEUS




No passado dia 9 de março de 2016, no âmbito formativo do projeto diocesano do Despertar da Fé, perante mais de meia centena de educadores de infância e auxiliares educativos, o Pe. Carlos Silva, Diretor do Secretariado Diocesano das Missões e Pároco da Quinta do Anjo, desenvolveu o tema do “Sentido Religioso”. Numa segunda parte da sessão, os profissionais presentes tiveram oportunidade em desenvolver em pequenos grupos uma atividade de Despertar nas instalações do Centro Paroquial de Vale Figueira.

Na conferência, o Pe. Carlos Silva explicou-nos que o tema do Sentido Religioso está intimamente ligado, primeiro, ao sentido último da vida e, segundo, ao desejo de felicidade (que se manifesta no desejo do amor verdadeiro e da justiça), sendo que o segundo é crucial para responder ao primeiro. O Sentido Religioso expressa-se tanto nas perguntas teóricas, ligadas ao sentido último da vida, quanto nas exigências ‘práticas’, ligadas ao desejo de felicidade, de justiça, bondade. O desejo na experiência vital do amor humano mostra-nos que há necessidade de sair de si mesmo em direção ao outro e que na medida em que nos damos, recebemos. Esta acaba por se revelar, na verdade, como lei do coração humano.

O presbítero continuou dizendo que o fenómeno do desejo no homem é bom em si mesmo, todavia, porque nem todo o desejo conduz ao caminho do bem, carece de purificação. Assim, no êxodo de si mesmo em direção ao outro, há a exigência de uma renúncia em prol da promoção do outro. É certo que quando não há um amor autêntico não há recompensa e a renúncia torna-se praticamente impossível, contudo, é pela renúncia que surge a tão necessária purificação do desejo. Neste sentido, entende-se a família como a grande escola da purificação do desejo, onde somos educados para a abnegação de nós mesmos, condição necessária para a permanência no amor.

O Pe. Carlos constatou que, se é verdade que a experiência genuína do amor faz-nos entender que quanto mais nos damos ao outro mais recebemos, também é real dizer que o outro nunca satisfaz plenamente o nosso desejo por mais que possamos dar ou receber. Quanto mais crescemos neste amor autêntico constatamos que o desejo íntimo não é saciado e que nada nem ninguém o satisfaz. Precisamos na verdade do infinito para contentar o nosso coração. Assim se entende que todas as experiências humanas abrem-nos em última instância para esta verdade: só Deus, que é infinito, pode nos saciar ou realizar plenamente. Ele é o bem maior de toda a vida e tudo o que há na vida pode nos abrir à sua presença.

O desejo humano desempenha assim um papel fundamental no desejo de Deus. O processo não é simples pois no contexto cultural presente é-nos dito o que desejar. Perante esta manipulação mais ou menos velada do desejo humano, o Pe. Carlos em alusão ao ensino do papa Bento XVI referiu que torna-se importante educar cada criança para as coisas simples, belas e boas da vida, aquelas que são mais básicas à experiência humana: o amor humano, a amizade, a natureza, a sabedoria, a estética, etc. Se o coração do homem não é educado para ver e saborear as coisas boas da vida ele terá grande tendência a fechar-se. É igualmente repto educar as crianças a acolherem as dificuldades e sofrimentos da vida com sabedoria e paciência, dando-lhes um sentido, sem as desclassificar ou ignorar.
Em jeito de conclusão dizia o padre que “toda a nossa vida é marcada pela realidade do desejo e é este desejo que nos pode levar até Deus”. No cristianismo em concreto a relação entre Deus-homem que é promovida pelo desejo humano “não é uma regra, mas uma relação de um coração com outro Coração, uma relação amorosa”. Por isso o despertar religioso não se reduz a uma atividade ocasional ou cíclica. É uma atitude de fundo que deve entranhar todo o processo educativo com uma reta pedagogia do desejo capaz de abrir a criança em cada circunstância da sua vida a um plus, ao sentido último, ao infinito, a Deus.

A próxima dessão do Despertar será no dia 4 de maio, no mesmo local à mesma hora com o tema d"A Oração".